Igreja Universal do Reino de Deus compartilhou nas suas redes sociais uma mensagem que diz que um casal de fiéis foi curado do HIV, vírus que causa a Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), “através da fé”.

A publicação que foi feita no Instagram e no Facebook da igreja na terça-feira (15), afirma que um casal soropositivo abandonou o tratamento para o HIV e se curou após entrar para uma corrente de orações.

O Fórum de ONG/Aids de São Paulo (Foaesp) protocolou uma denúncia sobre o caso junto ao Ministério Público Federal (MPF) para averiguar os crimes que podem ter sido cometidos.

Em nota, a Igreja Universal nega que tenha propagado que curou, mas defende que a fé é elemento importante no tratamento de doenças.

A postagem foi apagada das redes sociais da instituição religiosa na tarde fa última quinta-feira (17).

Para Roseli Tardelli, diretora da Agência Aids, portal dedicado a notícias sobre a doença, o ato cometido pela IURD foi “um crime”, “um desserviço” e “uma afronta à ciência”.

“É uma irresponsabilidade. Um ato criminoso e irresponsável. Uma afronta à ciência. Um desserviço. Trabalho com Aids desde 1993, quando meu irmão se infectou. Sempre tratamos do tema com muita responsabilidade. Como ativista, me sinto absolutamente desrespeitada. Estão sendo parceiros da morte e não da vida”, afirmou.

Jamal Suleiman, médico infectologista do Instituto de Infectologia do Emílio Ribas, reforça que os pacientes soropositivos não devem abandonar os tratamentos, pois são justamente os medicamentos que levam progressivamente à indetectabilidade da carga viral no organismo.

Com o tratamento contínuo, o infectologista destaca que soropositivos podem ter uma vida “absolutamente normal” do ponto de vista da saúde mental e física, pois saem da zona de risco para infecções oportunistas e, além disso, podem conquistar uma vida sexual plena, uma vez que com a carga viral indetectável, não colocam o parceiro em risco de infecção.

“É um tratamento que eu costumo dizer que é bastante simples. E essa simplicidade pode ser entendida como algo possível de ser abandonado. É aí que reside o grande problema da terapêutica das pessoas que vivem com HIV/Aids, porque aí elas ficam vulneráveis à abordagem de criminosos que divulgam que a doença pode ser curada através de um milagre”, diz Suleiman.