Mundo – As autoridades da Venezuela anunciaram a libertação de 99 pessoas detidas durante os protestos de 2024, que se seguiram à contestada reeleição de Nicolás Maduro. A vitória eleitoral do ditador, contestada por observadores internacionais, desencadeou manifestações que deixaram 28 mortos e pelo menos 2,4 mil presos, classificados pelo regime como “terroristas”.

A Justiça venezuelana libertou mais de 2 mil pessoas desde então, segundo dados oficiais. “O governo nacional e o sistema de Justiça decidiram avaliar caso a caso e conceder, de acordo com a lei, medidas cautelares, o que permitiu a libertação de 99 cidadãos, como expressão concreta do compromisso do Estado com a paz, o diálogo e a Justiça”, afirmou o Ministério do Serviço Penitenciário, em comunicado emitido na quinta-feira, 25.

De acordo com o governo venezuelano, as 99 pessoas estavam presas por participação nos “atos de violência, traição à pátria e incitação ao ódio”, após as eleições de 28 de julho de 2024.

Entre os libertados está a médica Marggie Orozco, de 65 anos, condenada à pena máxima por “traição à pátria, incitação ao ódio e conspiração” após criticar, em uma mensagem de voz, “o presidente de esquerda”, segundo informou a ONG Justiça, Encontro e Perdão, que monitora casos de presos políticos. Ela foi presa em agosto de 2024 e condenada em novembro.

As libertações acontecem em um momento de tensão entre Venezuela e EUA. Desde agosto, o governo americano mantém uma poderosa frota naval no Mar do Caribe, sob o argumento de lutar contra o narcotráfico. Maduro afirma que as manobras são destinadas a forçar uma mudança de regime e assumir o controle do petróleo venezuelano.

Segundo relatos de parentes, 60 libertados estavam na penitenciária de segurança máxima de Tocorón, a 134 quilômetros de Caracas, que serviu de base durante anos para o temido grupo criminoso Tren de Aragua, considerado pelos Estados Unidos uma organização “narcoterrorista”.

“Devemos lembrar que são mais de mil famílias com presos políticos”, afirmou Andreína Baduel, filha do general Raúl Isaías Baduel, que morreu na prisão em 2021, um colaborador de longa data do comandante Hugo Chávez.

O irmão de Andreína, Josnars Adolfo Baduel, está preso há cinco anos sob a acusação de terrorismo, de acordo com ela “em condições desumanas e com um estado de saúde delicado por sequelas de torturas”. Defensores de direitos humanos apontam que as detenções têm um caráter arbitrário.

“Reiteramos nosso apelo para a libertação imediata e incondicional de todas as pessoas privadas de liberdade por razões políticas na Venezuela”, afirmou a ONG Justiça, Encontro e Perdão, em um comunicado.