O Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (6) pelo Banco Central, mostrou estabilidade nas expectativas do mercado para a inflação nos próximos anos, com todas as projeções acima do centro da meta oficial de 3%. Para 2025, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperado é de 4,80%, uma leve queda em relação aos 4,81% da semana anterior. Para 2026, a projeção segue em 4,28%; para 2027, em 3,90%; e para 2028, em 3,70%.

A dificuldade das estimativas em convergir para a meta tem sido usada pelo BC como justificativa para manter a taxa Selic em patamares elevados. Segundo o Focus, a expectativa é que os juros básicos encerrem 2025 em 15% ao ano, caindo gradualmente para 12,25% em 2026, 10,50% em 2027 e 10% em 2028.

O cenário fiscal é apontado pelos analistas como o principal entrave para a queda tanto das expectativas de inflação quanto das taxas de juros. Às vésperas da corrida eleitoral de 2026, o mercado duvida da capacidade do governo Lula em conter gastos. As projeções para o resultado primário indicam déficit de 0,5% em 2025, 0,6% em 2026, 0,4% em 2027 e 0,15% em 2028.

Outro ponto de atenção é o risco de um possível “shutdown” em 2027, quando economistas alertam para a possibilidade de o governo não conseguir financiar despesas discricionárias diante do esgotamento do orçamento.

O câmbio aparece como um fator que pode aliviar a pressão inflacionária. O mercado prevê dólar a R$ 5,45 no fim de 2025, abaixo da estimativa anterior de R$ 5,48. Para 2026, a projeção também caiu, de R$ 5,58 para R$ 5,53. Já para 2027 e 2028, a cotação esperada foi mantida em R$ 5,56.

Apesar desse alívio, os preços administrados — como energia elétrica e combustíveis — voltaram a pressionar. O Focus aponta inflação de 4,81% nessa categoria em 2025, a terceira alta consecutiva. Para os anos seguintes, as expectativas foram mantidas: 3,97% em 2026, 4% em 2027 e 3,70% em 2028.

Com projeções persistentes acima da meta e incertezas fiscais, o mercado reforça a percepção de que a política monetária seguirá restritiva por mais tempo, em meio à dificuldade de equilibrar estímulos à economia com a necessidade de controlar a inflação.