
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ao jornal norte-americano The New York Times que quer ser tratado com respeito e reclamou que “ninguém” do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “quer conversar” sobre o tarifaço de 50% imposto pelos EUA a exportações do Brasil. A entrevista do petista ao NYT, a primeira em 13 anos, foi publicada nesta quarta-feira (30).
A matéria do Times começa com a seguinte frase: “O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, está indignado”. O texto ainda diz que o mandatário aceitou falar com a reportagem porque “queria falar ao povo norte-americano sobre sua frustração com Trump”.
Segundo Lula, o governo dos EUA ignora todas as ofertas para dialogar sobre a taxação, que entrará em vigor a partir de sexta-feira, 1º de agosto. “Esteja certo de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não requer subserviência”, falou. “Eu trato todo mundo com grande respeito. Mas eu quero ser tratado com respeito”, continuou.
A reportagem também comenta que “talvez nenhum líder mundial esteja desafiando o presidente Trump tão fortemente quanto Lula”. Como já declarou em outras oportunidades, Lula opinou que o chefe do Executivo norte-americano talvez não saiba que “aqui no Brasil, o judiciário é independente”, em resposta à exigência de Trump para que o Brasil cesse o
que chamou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado.
Lula também voltou a fazer paralelos entre atos de 6 de janeiro de 2021, na invasão ao Capitólio, nos EUA, e de 8 de janeiro de 2023, no Brasil, quando sedes dos Três Poderes foram depredadas e invadidas. Lula repetiu que, se Trump estivesse no Brasil, seria alvo dos mesmos processos que miram Bolsonaro.
O NYT lembrou entrevista dada por Bolsonaro ao jornal em janeiro, em que o ex-mandatário afirmou que tinha esperança de que alguma ação de Trump pudesse livrá-lo de acusações golpistas. “À época, o desejo parecia pouco realista. Então, neste mês, Trump interviu”, escreveu o New York Times, em referência ao tarifaço.
“O Estado democrático de direito é uma coisa sagrada para nós. Porque nós já sobrevivemos a ditaduras, e não queremos mais”, falou Lula.
Lula afirmou que “em nenhum momento, o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno contra um país grande”. O chefe do Executivo ponderou que “nós conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos. Nós reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, nós reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos.”
Mas o presidente declarou que “isso não nos deixa com medo. Isso nos deixa preocupados”, acrescentou. “O comportamento de Trump se distanciou de todos os padrões de negociações e diplomacia. Quando você tem uma divergência comercial, uma divergência política, você pega o telefone, você marca um encontro, você conversa e tenta solucionar o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato”, lamentou.
O presidente disse que “nem o povo americano, nem o povo brasileiro merecem isso”, em relação ao impacto da tarifa de 50%. “Porque nós vamos sair de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde”, continuou.
O que tem impedido o diálogo, segundo Lula, é que “ninguém quer conversar. Todo mundo sabe que pedi para fazer contato”, seguiu. O Times lembrou que, em 11 de julho, Trump disse a repórteres que eventualmente poderia conversar com o presidente brasileiro, “mas não agora”.
No fim da entrevista, Lula foi perguntado pelo NYT sobre sanções dos EUA a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a possibilidade de o ministro Alexandre de Moraes, relator de processos envolvendo Bolsonaro na Corte, ser enquadrado pela Lei Magnitsky por supostas violações a direitos humanos. A reportagem lembrou que o secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou ao Congresso americano haver “grande” possibilidade de isso ocorrer.
O mandatário saiu em defesa do judiciário. “Se o que você está me dizendo é verdade, é mais sério do que eu imaginava. A Suprema Corte de um país tem que ser respeitada não apenas pelo seu próprio país, mas tem que ser respeitada pelo mundo.”







