Um cabo do Exército é suspeito de transportar as 21 metralhadoras furtadas do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), em Barueri, na região metropolitana do estado. A reportagem apurou que o Exército investiga se ele usou um carro oficial do então diretor do quartel para retirar as armas do local e levá-las para fora, onde seriam negociadas com facções criminosas.

A suspeita é de que o crime tenha ocorrido no início do feriado da Independência do Brasil, em 7 de setembro, quando a energia elétrica do quartel foi cortada intencionalmente, causando um “apagão” que desligou as câmeras de segurança.

A energia foi religada automaticamente depois do furto. Um dos cadeados que trancava a porta da sala de armas foi rompido e trocado por outro. O lacre da inspeção, que fica com o cadeado, também teria sido adulterado para tentar enganar a fiscalização.

Peritos do Exército encontraram impressões digitais de militares do quartel em quadros de energia e na sala de armas.

Apesar de ter suas impressões digitais encontradas na sala de armas, o cabo não tinha autorização para entrar no lugar. Sua missão era atuar como motorista do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, que havia assumido a direção do quartel em março de 2023.

Os investigadores suspeitam que o cabo tenha se aproveitado do livre acesso que tinha ao quartel, como homem de confiança do então diretor da unidade.

A última inspeção na sala de armas havia sido em 6 de setembro. Os militares só conferiram se a porta permanecia lacrada 33 dias depois, em 10 de outubro, quando um subtenente viu sinais de arrombamento e constatou o desaparecimento das armas.

Segundo o Exército, as armas, fabricadas entre 1960 e 1990, são “inservíveis”, ou seja, não estariam funcionando perfeitamente. Elas passariam por manutenção e seriam avaliadas. Possivelmente seriam destruídas ou inutilizadas, já que recuperá-las teria um alto custo.

Até a última atualização desta reportagem, 17 das metralhadoras foram recuperadas na semana passada em operações conjuntas do Exército e das polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Outras quatro armas, todas 50, ainda são procuradas.

Além do cabo, mais seis militares são investigados como suspeitos de participarem diretamente do maior desvio de armas da história do Exército brasileiro. O cabo era motorista pessoal do então diretor do AGSP, que foi exonerado do cargo pelo Exército após o desaparecimento das metralhadoras.

Batista não é investigado no Inquérito Policial Militar (IPM) conduzido por um oficial do Comando Militar do Sudeste (CMSE). Ele continua na ativa, mas será transferido para outra unidade militar ainda não divulgada.

No grupo dos sete militares investigados, há soldados, cabos, sargentos e tenentes. O CMSE quer usar as informações das quebras dos sigilos bancários, telefônicos e das redes sociais autorizadas pela Justiça para levantar mais provas do envolvimento deles no sumiço das metralhadoras.

Os investigadores avaliam que os indícios reunidos até o momento seriam suficientes para pedir à Justiça Militar a prisão dos sete investigados por suspeita de terem cometido os seguintes crimes militares: furto, peculato, receptação e extravio. O pedido ainda não foi feito.