Médicos no Japão relataram recentemente o caso de uma mulher que deu entrada em um hospital com um quadro de língua pilosa negra (BHT, na sigla em inglês).

Trata-se de uma condição clínica benigna, ou seja, inofensiva para a saúde. Ela é causada pelo acúmulo de células mortas na superfície das papilas gustativas. São elas as responsáveis por detectar o sabor, a sensibilidade e as temperaturas.

A paciente havia sido submetida a um tratamento quimioterápico de 14 meses devido a um câncer retal com metástase no fígado.

A quimioterapia foi feita com as drogas panitumumabe, irinotecano e 5-fluorouracil.

Além desses medicamentos, a mulher tomava o antibiótico minociclina diariamente para prevenir lesões de pele que poderiam surgir como reação ao panitumumabe.

Ao diagnosticarem a língua pilosa negra, uma condição benigna e reversível, os médicos ressaltaram que ela pode ocorrer como efeito colateral de vários medicamentos.

“Além disso, a associação entre BHT e antibióticos, como eritromicina, doxiciclina, linezolida, penicilina, minociclina e metronidazol, está bem documentada na literatura. Curiosamente, há relato de que o BHT foi causado pelo erlotinibe, que é um inibidor do fator de crescimento epidérmico semelhante ao panitumumabe e foi administrado ao paciente descrito neste caso”, observaram.

Os especialistas levantam uma dúvida de qual dos dois medicamentos — panitumumabe ou minociclina — teria desencadeado a reação, mas mantêm uma hipótese mais forte.

“Suspeitamos que o agente causador do BHT era a minociclina devido à presença de pigmentação cinza difusa em seu rosto, que é característica do dano cutâneo induzido pela minociclina. A minociclina fica preta quando oxidada e pode causar descoloração da pele. A pigmentação da pele induzida pela minociclina é um efeito colateral dose-dependente bem documentado, com incidência que varia de 3% a 15%”, escreveram.