O plano arquitetado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para executar o senador Sérgio Moro (União Brasil) custou cerca de R$ 1,2 milhão à equipe intitulada “Sintonia Restrita”. A informação está contida em um relatório elaborado pelo Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise), divulgado pela Justiça Federal nesta quinta-feira, 23.

A Polícia Federal (PF) realizou na última quarta-feira, 22, a Operação Sequaz, que teve por objetivo desarticular o plano da facção de sequestrar e matar autoridades públicas. Durante a investigação, a PF encontrou documentos contábeis que foram elaborados pela equipe. Neles, foram elencados todos os gastos relativos à execução do plano contra as autoridades. Os insumos necessários para a ação incluíam o aluguel de imóveis, gastos com alimentação, combustível e pedreiro para construir o cofre onde seriam escondidas armas utilizadas no plano.

A partir da divulgação do relatório, foi possível traçar uma linha do tempo sobre a elaboração do plano.

Dia 2 de fevereiro de 2023

Uma testemunha protegida pela Justiça deu informações ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo. A testemunha alegou que integrava o PCC e afirmou estar jurado de morte pela facção. Ela relatou aos promotores que uma célula do PCC planejava realizar o crime de extorsão mediante sequestro contra autoridades públicas, dentre elas estava o ex-juiz Sérgio Moro e o promotor de Justiça de São Paulo, Lincoln Gakiya. A testemunha mencionou o nome de Janeferson Aparecido Mariano Gomes, apontado como o líder do plano e integrante da célula chamada “Restrita 05”.

Dia 3 de fevereiro de 2023

O Grupo Especial de Investigações Sensíveis da PF abriu um inquérito para investigar “possível plano de sequestro de autoridade pública”. Tendo como base os números dos celulares informados pela testemunha, a Justiça aprovou interceptações telefônicas e quebra de sigilo das linhas. De acordo com e-mails identificados a partir dos celulares, foi comprovado que Janeferson foi o responsável por arquitetar o plano.
A apuração comprovou que os e-mails enviados eram de pessoas diretamente ligadas ao narcotráfico e ao PCC. Mensagens trocadas por meio de aplicativo apontam que Janeferson tinha um relacionamento amoroso com a suspeita Aline Maria Paixão. De acordo com a investigação, a mensagem comprova a existência “real” do plano de sequestrar Moro, que era mencionado pela equipe com o codinome “Tókio”, e “Flamengo”, por sua vez, fazia referência ao sequestro.

Veículos, cadernos e Curitiba

A Polícia identificou nos e-mails fotos de diversos carros, dentre eles, uma Mercedes blindada. De acordo com a investigação, o veículo seria utilizado para o sequestro do senador, no entanto, foi vendido recentemente ao pai de Hemilly Adriane Mathias Abrantes, uma das suspeitas de integrar a equipe. Hemilly é casada com um membro do PCC, que atualmente está preso na Penitenciária Estadual de Piraquara, conhecida por abrigar exclusivamente integrantes do PCC. A suspeita possui passagem pela polícia por furto qualificado.

Imagens que apontam os controles de gastos do grupo direcionaram a operação ao codinome “Tókio” e ao nome da cidade de Curitiba. Em uma conversa armazenada na nuvem da conta de Janeferson, o grupo de investigação encontrou a foto de um caderno contendo informações relevantes sobre Moro e sua família. Outra mensagem indica o mapeamento minucioso do local de votação do então candidato, em Curitiba.