Uma organização sem fins lucrativos de jornalismo investigativo chamada Projeto Veritas armou um falso encontro romântico para, com uma câmera escondida, tirar informações de um possível funcionário da farmacêutica Pfizer, fabricante do mais vendido imunizante baseado em nanopartículas de mRNA contra Covid-19.

Jordon Trishton Walker, que o projeto descreveu como diretor de operações estratégicas em pesquisa e desenvolvimento da Pfizer, que também seria responsável pelo planejamento científico da tecnologia de mRNA, disse, sem saber que estava sendo gravado, que a farmacêutica faz experimentos de alteração do material genético do coronavírus para produzir vacinas. Vídeos das câmeras escondidas, com edições, foram publicados na quarta e quinta da semana passada (25 e 26). Há elementos incertos na história.

‘Sabe quando o vírus fica passando por mutação?”, disse Jordon ao portador da câmera escondida. ‘Uma das coisas que estamos explorando é (…) causar as mutações por nós mesmos, de modo que possamos nos concentrar em criar, desenvolver de forma preventiva novas vacinas’. Quando o entrevistador perguntou diretamente se a Pfizer pretende causar mutações no vírus da Covid, Jordon respondeu ‘Isso não é o que dizemos ao público, não. Foi um pensamento que ocorreu em uma reunião e nós dissemos ‘por que não?’

Ele também falou que a Covid é uma mina de ouro ‘para nós’ e que as mutações seriam para uma ‘evolução direcionada’ do vírus, o que foi interpretado como sinônimo de pesquisa de ‘ganho de função’ por comentaristas, inclusive o âncora da Fox News, Tucker Carlson. Jordon também diz, no vídeo, que os experimentos seriam feitos com macacos, e que suspeita que pesquisa similar foi ‘o modo como o vírus começou em Wuhan’, uma referência à hipótese da origem laboratorial.

Quando a câmera escondida foi revelada para Jordon Walker pelo diretor executivo do Veritas, James O’Keefe, que chegou após a saída do repórter anônimo que atuou como isca em uma pizzaria do Brooklyn (Nova York), o suposto funcionário da Pfizer reagiu de modo histérico, tomando um tablet das mãos do repórter e tentando destrui-lo. ‘Sou literalmente um mentiroso. Estava tentando impressionar uma pessoa num encontro mentindo’, declarou Jordon. Houve empurrões, mas James, ao contrário do entrevistado, manteve a compostura.

QUEM É O FUNCIONÁRIO DA PFIZER – A primeira dificuldade no caso é a confirmação da identidade do entrevistado. Não há resultado para seu nome no site da Pfizer. As redes sociais se polarizaram entre pessoas como o colunista da Forbes Bruce Y. Lee, duvidando das credenciais de Jordon, e apoiadores do Projeto Veritas que apontam para páginas da internet arquivadas e dizem que houve uma queima de arquivo.

James O’Keefe publicou no Twitter fotos e capturas de tela de computador do que ele chamou de ‘documentos da Pfizer’ mencionando a hierarquia de Jordon (ele estaria três posições abaixo do diretor executivo da farmacêutica, Albert Bourla). De acordo com as imagens exibidas por O’Keefe, Jordon teria se graduado em biologia em Yale no ano de 2013, e teria estudado medicina na Universidade do Texas. Sua posição na Pfizer, segundo as imagens, está descrita como no vídeo do Veritas. Um site de arquivo mostra uma busca do navegador Brave do perfil de Jordon no LinkedIn. O perfil não existe mais. O perfil, ao ter sido arquivado, já não existia, mas o arquivo anterior, da busca, traz na pré-visualização a mesma descrição do Veritas e a afiliação à Pfizer.

Em resposta à repercussão do vídeo, a Pfizer publicou uma nota pública no dia 27. A empresa nega que tenha feito pesquisa de ganho de função ou evolução direcionada, explica que tipo de trabalho faz com a Covid-19, mas não menciona diretamente o caso, e não confirma nem nega se Jordon Walker é um funcionário. A agência de checagem Snopes fez perguntas específicas sobre o caso, mas a farmacêutica não respondeu.

Internautas acharam uma pessoa que parece ser Jordon em uma foto de formatura de 2018 da mesma faculdade de medicina do Texas mencionada nas capturas de tela de O’Keefe. Uma página do mesmo ano da faculdade menciona um ‘Jordan Trishton Lee Walker’, com grafia diferente no primeiro nome. Adicionalmente, o Projeto Veritas mostrou seis artigos científicos que teriam a coautoria de Jordon Walker. Na terça (31), para fazer pressão, o projeto levou à porta da sede da Pfizer em Manhattan um caminhão com telões eletrônicos mostrando cenas dos vídeos e o rosto do entrevistado.

Em suma, conteúdo que facilite a identificação foi apagado da internet desde a publicação dos vídeos, mas há indícios que Jordon é uma pessoa real, que estudou medicina e que pode ter ligação com a Pfizer, apesar da falta de confirmação da empresa. Há ao menos um texto de blog de maio de 2020, no site da empresa Boston Consulting Group, com coautoria do médico e uma foto, e uma página arquivada de um site de recrutamento que parece preservar os detalhes do perfil deletado no LinkedIn. Porém, mesmo que a identidade de Jordon Walker seja confirmada, é prematuro considerar que as declarações captadas em vídeo pelo Projeto Veritas sejam integralmente ou mesmo parcialmente verdadeiras.

Com informações Gazeta do Povo