Cinco anos após a morte do pai, supostamente por suicídio, os próprios filhos são acusados de serem os responsáveis pela morte do idoso de 77 anos. O caso aconteceu em 13 de outubro 2016, em um bairro nobre na Zona Sul do Rio.

O ministério Público fez a denúncia contra os três filhos da vítima, após a causa da morte chamara  atenção de policiais e promotores. Sérgio Faria Coelho de Souza, morreu com três tiros à queima-roupa, sendo dois na cabeça e um no peito.

A versão criada pelos supostos criminosos foi desmontada em razão da perícia médica legista do Instituto Médico Legal que se opôs à hipótese de suicídio, diferentemente do que constava na guia de encaminhamento do cadáver. As investigações policiais conseguiram demonstrar que a vítima foi atingida por três disparos de arma de fogo, todos com cano da arma encostado em seu corpo.

“Ele recebeu um tiro que feriu o pulmão e o coração, e dois tiros encostados na cabeça que provocaram a laceração do cérebro e causaram a sua morte imediata”,  informou o promotor do caso Alexandre Themístocles.

Sérgio morava junto com um dos filhos Sérgio Benoliel Coelho de Souza na casa onde foi morto. Naquela noite, também estavam na casa a filha, Daniela Benoliel Coelho de Souza de Oliveira Couto, e o namorado dela, Eduardo Carlos Piccoli. A casa tinha câmeras na parte externa e no andar da sala e da cozinha. Na versão dos filhos e do genro, segundo os depoimentos que deram à polícia, o pai chegou em casa no meio da tarde e o filho, no início da noite. Por volta das 22h20, chegam a filha, Daniela, e o namorado, Eduardo. Às 22h42, toca o telefone fixo da casa, que é sem fio. Eduardo atende e chama o sogro.

O idoso, que era viúvo, da mãe dos filhos, tinha uma namorada chamada Vera, que era quem estava no outro lado da linha. Segundo os filhos, o pai discute com Vera. A filha intervém, pedindo ao pai que peça a era para ligara para o celular. Sérgio então diz que nesse momento ouve os gritos do pai e da irmã e vai ao corredor dos quartos. Segundo os depoimentos, o pai saiu do quarto armado, ameaçando dar um tiro contra a própria cabeça.

Sérgio ainda em depoimento afirma que “afastou Daniela e Eduardo e que o pai novamente fechou a porta do quarto” e fez um disparo. Sérgio disse ainda à polícia que “tudo se tratava de um ‘teatro’” do pai. E que “o pai abriu a porta do quarto, mostrando o peito, com sangue na blusa e perguntou: ‘isso é teatro?’”.

Havia câmeras de segurança em todos os lugares da casa, porém, no lugar onde aconteceu a suposta discussão e o suposto suicídio, não havia. Os filhos afirmam que tentaram pedir socorro mas a ligação não completou.

Quando o socorro e a polícia chegaram, Sérgio já estava morto com três tiros: um no peito, um no ouvido e outro na parte inferior da mandíbula. A versão contada pelos filhos foi a que Sérgio se matou. Mas, após a necropsia no Instituto Médico Legal, a médica legista discordou e o caso passou a ser investigado como homicídio.

” Esse caso realmente me chamou muito a atenção porque foi muito atípico. A gente nunca tinha visto um suposto suicídio praticado com um disparo contra o peito, e dois disparos na cabeça. A lesão cardíaca não produziu uma morte imediata. Essa morte poderia ocorrer em alguns minutos. Isso poderia ser suficiente para que houvesse um segundo disparo, mas jamais um terceiro disparo, disse Luiz Carlos Preste, médico legista.

A Polícia Civil encerrou o inquérito e pediu a prisão preventiva dos filhos Sérgio e Daniela e do genro, Eduardo. A justiça negou. A defesa solicitou a exumação do corpo.

” Esse tiro atingiu uma área que não levava à inconsciência. Então, nós temos o primeiro caracterizado pelos depoimentos. Foi no peito. O segundo, caracterizado pelo próprio IML e por mim também como sendo esse debaixo do queixo, que esse não tirou a consciência imediatamente. Esse tiro que transfixou os dois hemisférios, esse desacordaria. Portanto o tiro que não levou, o segundo disparo que permitiu um terceiro, foi esse que foi dado abaixo da mandíbula — disse Nelson Massini, perito particular.

O legista do IML contesta.

” Não existe elemento técnico que você possa indicar com precisão a ordem dos disparos. Tanto um quanto outro disparo na cabeça não iria permitir que a vítima pudesse dar um novo disparo. Porque essas estruturas, tanto num quanto noutro, já teriam sido lesionadas, laceração encefálica, hemorragia cerebral. E isso daí produz uma inconsciência imediata.

Para a promotoria, o motivo do crime foi uma briga pela partilha dos bens da esposa de Sérgio, que tinha morrido três anos antes.

As investigações policiais reuniram elementos suficientes para demonstrar que ao tempo do crime havia uma discordância entre a vítima e os seus filhos sobre a partilha de bens. Bens deixados pela esposa da vítima que faleceu há pouco tempo. Essa desinteligência foi o que motivou uma a uma a uma animosidade em que a família vivia.

Os filhos foram denunciados pelo Ministério Público. O promotor também pediu a prisão deles. Defesa e acusação aguardam uma decisão da justiça.

” O Ministério Público ofereceu a denúncia e pediu a decretação da prisão preventiva dos investigados. Os acusados responderiam por crime de homicídio qualificado, pela motivação, pelo modo de execução, pelo fato de a vítima ser maior de 60 anos de idade”, disse o promotor.