Há 1 ano na linha de frente contra o coronavírus, os profissionais de saúde, que por vezes são comparados a heróis, sofrem uma dura realidade: a desvalorização e a impotência. Uma das entidades que mais se expõe e sofre com o excesso de trabalho e esgotamento físico e psicológico é a de enfermagem. Diante da pandemia, chega a ser inaceitável que a classe receba como recompensa uma oferta de trabalho considerada repugnante.

Nesta nesta terça-feira (23), a Prefeitura do município de Presidente Figueiredo, localizado a 133 km de Manaus, lançou o edital n° 002/2021, propondo a remuneração de R$ 2.000,00 (dois mil reais) para enfermeiros e R$ 1.222,68 (mil duzentos e vinte e dois reais e sessenta e oito centavos) para técnicos de enfermagem, com carga horária de 40 horas.

O processo seletivo foi recebido como “uma surpresa muito desagradável”, “uma proposta imoral”, que demonstra descaso em relação aos profissionais que são centrais no processo de cuidado hospitalar. O enfermeiro Caio César que atende em uma UBS do município acrescenta que “o enfermeiro é o responsável pelo diagnóstico de enfermagem relativo aos cuidados necessários aos pacientes e pelo planejamento das condições para a oferta da assistência, deveria ser melhor remunerado”. 

Diante do edital, o Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren-AM), que vem acompanhando a atuação da classe na pandemia, protocolou um pedido de impugnação à Prefeitura de Presidente Figueiredo nesta quarta-feira (24), contestando as baixas remunerações e elevada carga horária, dispostas no edital.

O conselho se manifesta totalmente contra os salários propostos a uma profissão com tantos desafios e que ainda lida diariamente com a pandemia do Covid-19.

O presidente do Coren-AM, Dr. Sandro André, esteve pessoalmente na sede da Secretaria de Administração do município para protocolar o ofício que contesta os valores oferecidos aos profissionais e solicita que tanto o salário quanto a carga horária sejam revistos, garantindo assim, condições dignas para os profissionais da enfermagem que desejarem se candidatar.

“O Coren Amazonas jamais irá admitir tal situação, estamos em plena pandemia. Isto é um sinal de desvalorização e desrespeito com a nossa profissão. Estamos solicitando que as autoridades do município revejam essa situação, caso não sejamos atendidos, recorreremos às medidas judiciais”, declarou Sandro André.

Luta pelo piso salarial e jornada de 30h

De acordo com o órgão, a classe da enfermagem atualmente não possui um piso salarial definido, o que facilita que tais propostas salariais sejam anunciadas sem pudor.

Propondo mudar esse cenário, o conselho estuda estabelecer uma média salarial, a fim de valorizar a classe. Anualmente o sindicato da categoria se reúne com representantes das empresas empregadoras para definir por convenção coletiva e dissídio um teto salarial para o estado, mas que segundo o presidente do Coren-AM, Sandro André, que nem sempre este acordo é seguido.

“Por isso estamos lutando para que o piso salarial dos profissionais seja regulamentado por lei no nosso país. Além de buscar incessantemente que os direitos básicos como jornada de trabalho de 30h, e o descanso digno também sejam garantidos por lei. Estamos buscando apoio dos deputados estaduais, federais e senadores para que todos estes projetos sejam destravados. A enfermagem merece esse reconhecimento e essa valorização”, finalizou o presidente.