O servidor Silvio Kammers foi a primeira vítima fatal da doença entre os funcionários do entorno do presidente, que tem negado casos graves no Planalto

Um auxiliar do gabinete pessoal do presidente Jair Bolsonaro, o servidor Silvio Kammers, faleceu em decorrência da Covid-19 no início desse mês, mas a informação tem sido mantida sob sigilo pelo Palácio do Planalto.

Dias depois da morte de Silvio Kammers, um dos seus ajudantes de ordem, Bolsonaro voltou a defender remédios sem eficácia comprovada contra a doença em discursos e afirmou desconhecer algum funcionário do prédio que desenvolveu quadro grave da doença.

De acordo com o site O Antagonista, a vítima foi o segundo sargento do Exército Silvio Kammers, supervisor da ajudância de ordens do gabinete pessoal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A portaria que informou a morte de Kammers foi publicada no Diário Oficial da União de 10 de março, com data do dia anterior. A publicação é assinada por Célio Faria Júnior, chefe de gabinete do presidente.

Bolsonaro costuma repetir em lives e discursos que nenhum funcionário da sede do Executivo precisou nem mesmo de internação graças ao uso de medicamentos que ele propagandeia, mas que não têm eficácia comprovada ou que são comprovadamente ineficazes.

“Neste prédio mesmo, mais de 200 pessoas contraíram a Covid e quase todas, pelo que eu tenho conhecimento, inclusive eu, buscou esse tratamento imediato com uma cesta de produtos como a ivermectina, a hidroxicloroquina, a Annita, a azitromicina, vitamina D, entre outros, e tiveram sucesso, desconheço que uma só pessoa deste prédio tenha ido ao hospital para se internar”, disse Bolsonaro na cerimônia de sanção de projetos que facilitam a compra de vacinas contra Covid-19.

A fala foi proferida no mesmo dia em que saiu o Diário Oficial relatando a morte do auxiliar do presidente.

De março de 2020 a fevereiro deste ano, o Palácio do Planalto registrou 454 casos de Covid-19. Os números parciais deste mês, quando o país vive o pior momento da pandemia, não foram disponibilizados à reportagem. De acordo com a Secretaria-Geral, a informação é consolidada apenas no fim de cada mês.

O pico -114 casos- foi em julho do ano passado, mesmo mês em que Bolsonaro descobriu que estava infectado.

Ao circular pelo Planalto é possível encontrar muitos funcionários que, a exemplo do presidente, não usam máscaras de proteção.

Sob condição de anonimato, servidores relatam não haver uma orientação expressa para que não usem o acessório, mas afirmam se sentir constrangidos a não usar.

Com o agravamento da crise e a escassez de vacinas, Bolsonaro não deixou de criticar medidas restritivas e de defender medicamentos sem eficácia, mas passou a adotar discurso favorável à imunização.

O Globo