O Pix, sistema de pagamentos do Banco Central do Brasil (BC), começou a operar no dia 16 de novembro, há exatos três meses. De lá para cá, já são mais de 65,4 milhões de usuários cadastrados, entre pessoas físicas e jurídicas – e esse número cresce mês a mês. Apesar das diversas funções, são as transferências de pessoa para pessoa que dominam as transações da ferramenta até o momento – e aí que mora um grande perigo: com a facilidade e rapidez do Pix, criminosos têm aprimorado golpes e utilizado o WhatsApp como isca para roubar dinheiro.

A principal questão não está no Pix nem em seu sistema, que tem se mostrado seguro. De acordo com o Banco Central, “não há qualquer registro de problemas de segurança ou fraudes” envolvendo a ferramenta. Sua rapidez e praticidade, porém, que são grandes virtudes, podem se tornar um perigo caso não haja cuidado.

A principal isca do momento para golpes usando o Pix é o WhatsApp. Por meio de uma técnica chamada de engenharia social, criminosos enganam suas vítimas e pedem um código de confirmação recebido por SMS, com pretextos diversos. Com esse número, o aplicativo de conversas da vítima é clonado e vira um verdadeiro ‘cardápio de fraudes’.O passo seguinte do criminoso costuma ser bem rápido: ele começa a enviar mensagens aos contatos da vítima, um por um, se passando pelo dono da conta e pedindo a transferência de uma quantia em dinheiro via Pix.

A desculpa, normalmente, segue um padrão: o limite de transferências diárias foi excedido, mas ele precisa fazer uma última transferência urgente. Por isso, está pedindo ajuda e avisa que devolverá o dinheiro na manhã do dia seguinte.

É nesse momento que as características do Pix fazem a diferença: o dinheiro recebido pelos criminosos cai na mesma hora e é sacado rapidamente, impedindo que o banco anule a transação. Normalmente, quando a vítima percebe o problema e notifica a instituição financeira, não dá mais tempo de recuperar a quantia enviada.Foi exatamente isso o que aconteceu com Vilson Simm, 32 anos, morador de Vilhena (RO). A conta de seu amigo havia sido clonada, mas ele ainda não sabia. Eles tinham acabado de se falar e esse amigo veio lhe pedir um dinheiro emprestado para fazer uma transferência, já que tinha excedido seu limite diário, e disse que devolveria o valor na manhã seguinte. Confiando, Simm enviou R$ 4377,00 e nunca mais recuperou.

“Como não tinha se passado 10 minutos que havíamos conversado, acabei caindo no golpe. O golpe está aí, cai quem se descuida. A gente ri porque chorar não vai trazer o valor de volta”, brincou, orientando a todos que “averiguem a veracidade das informações antes de qualquer transação bancária”.Outra vítima do mesmo golpe foi o jornalista William Almeida, 35 anos, de Jundiaí (SP). Ele teve seu WhatsApp clonado minutos depois de anunciar seu apartamento na internet. Uma pessoa ligou se passando pelo site do anúncio pedindo um código, enviado por SMS, para que a atividade fosse confirmada. Era um código de seis dígitos, em uma mensagem com boa escrita, segundo ele. No momento em que informou o código, seu WhatsApp caiu.

Por sorte, porém, nenhum dos seus amigos caiu na conversa dos criminosos e depositou o dinheiro. Percebendo que era um golpe, um deles fingiu que acreditava na história contada e recebeu os dados para a transferência. Com eles, William ligou para o banco e foi informado de que aquela conta seria bloqueada por meio da chave Pix.

Para proteger o WhatsApp, uma boa dica é a verificação em duas etapas: uma funcionalidade de segurança do aplicativo que define uma senha pessoal que deve ser usada para confirmar um novo registro da sua conta em outro celular. Assim, mesmo se alguém obtivesse o código de ativação com um golpe, precisaria ainda dessa senha pessoal, criada e guardada somente pelo usuário. Essa função pode ser ativada nas configurações do app.

Três meses de Pix e o que esperar?

De 16 de novembro a 16 de fevereiro, o início da popularização do Pix já mostra números robustos. Segundo dados do Banco Central do Brasil, até o fim de janeiro, mais de 200 milhões de transações haviam sido realizadas com a ferramenta. O tipo de chave mais cadastrada é o CPF e o tipo de transação mais realizada é de pessoa para pessoa (P2P), seguida pela transferência de pessoa para empresa (P2B). A ferramenta é mais popular entre o público de 20 a 29 anos e de 30 a 39 anos, perdendo força conforme a idade aumenta. Até o fim de janeiro, 65.496.767 pessoas já haviam se cadastrado no Pix.Ainda de acordo com o BC, em janeiro, a quantidade de Pix superou a quantidade de TED e DOC somados. De 1 a 25 de janeiro, foram 113.622.380 TEDs e DOCs e 133.879.584 transações via Pix. O banco Santander informou que já conta com mais de 36 milhões de operações realizadas e R$ 43 bilhões movimentados com a ferramenta. Já o NuBank, acredita que seu “alto número de cadastros” no Pix acontecem pela “clareza na informação e pelo fluxo prático e simples de registro das chaves no aplicativo”.

Fonte: O Dia