Amazomas – Os depoimentos à Polícia Federal dos ex-integrantes da cúpula da Secretaria de Saúde do Estado e seu próprio depoimento, tornam a situação do vice-governador Carlos Almeida ainda mais comprometedora no caso da compra dos respiradores superfaturados no auge da pandemia do novo coronavírus.

Os diálogos divulgados pelo Jornal Nacional ontem, 19 de outubro, dos ex-secretário estadual de Saúde, Rodrigo Tobias, do secretário executivo, João Paulo, e do secretário responsável pelo Fundo Estadual de Saúde (FES), Perseverando Garcia, sustentam a tese da PF de que houve uma trama para direcionar o negócio de quase R$3 milhões.

Tobias, João Paulo e Perseverando são da extrema confiança de Carlos Almeida e foram colocados no comando da então Susam, hoje SES, quando o vice-governador deixou o cargo de secretário de Saúde, em março de 2019. Ele assumiu a chefia da Casa Civil, mas continuou ditando os rumos da antiga pasta.

João Paulo (o JP, como Almeida o chama na intimidade) e Perseverando são conhecidos do vice-governador desde quando era defensor público de causas coletivas. JP foi estagiário e depois assessor direto de Almeida na Defensoria Pública. Já Tobias, o vice o conheceu quando foi secretário de Saúde. À época, Tobias era integrante de um comitê da Susam que tratava de atenção básica.

Nos áudios revelados pelo Jornal Nacional, Tobias diz a Perseverando que a compra dos respiradores deve ser feita de um determinado empresário, “grande, que tem bala na agulha’’. Em outro momento, Perseverando questiona: “por que não fazemos uma licitação fantasma? É melhor’’. Todos os diálogos foram flagrados em um grupo de whatsapp chamado “Só nós”, em que participavam os homens da confiança do vice-governador: Tobias, Perseverando e JP.

Nenhuma decisão estratégica era tomada pelo trio sem o aval de Carlos Almeida, como já apurou a Polícia Federal nos depoimentos tomados durante a prisão de JP, Tobias e Perseverando na primeira e segunda fases da Operação Sangria. As reuniões deles com Carlos Almeida eram semanais, na Sede do Governo, mais precisamente no gabinete de Carlos na Casa Civil.

Após a primeira fase da Operação Sangria, Carlos Almeida acreditou que não seria alcançado pelas investigações da Polícia Federal. Na segunda fase da Operação, o vice-governador do Amazonas foi alvo de busca e apreensão na casa dele, no gabinete na Sede do Governo e em escritório em prédio comercial que usou para reuniões mais reservadas.

Na residência de Almeida, a Polícia Federal apreendeu acessórios de marcas de luxo, conforme divulgou o portal UOL. Com valores na casa dos R$ 8 mil, cada, seriam incompatíveis com a renda do vice-governador, ou seja, de R$ 20 mil líquidos mensais, conforme aponta o Portal da Transparência do Governo estadual.