São Paulo – Demitida sumariamente da Avon após ser acusada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) de manter uma senhora de 61 anos em condições análogas à escravidão em sua casa no Alto de Pinheiro, bairro nobre da zona oeste de São Paulo, Mariah Corazza Üstündag, de 29 anos, disse que acredita que a situação foi “forjada”, que conhecia a mulher desde criança e que ela apenas cuidava de seus cachorros, serviço pelo qual ela pagava R$ 400 mensais, em duas parcelas.

“Depois que deixou de ser diarista da minha mãe, a Neide nunca mais foi diarista na minha casa. O único serviço que prestou para mim foi cuidar dos cachorros. Eu pagava R$ 400, em duas vezes. Até onde eu sei, esse valor está dentro do razoável”, disse em entrevista à Mônica Bergamo, na edição deste domingo (26) da Folha de S.Paulo.

Na entrevista, Mariah, que é filha de Sonia Corazza, engenheira química muito conhecida entre empresas de cosméticos, conta que conhecia Neide desde os 7 anos, quando ela passou a trabalhar como diarista para a mãe e para a avó, Nilde.

Segundo a executiva, a mulher foi abrigada pela avó – que não cobrava um centavo de aluguel – depois que a moradia que ela alugava com várias amigas foi interditada pela Defesa Civil.

“A ideia é que fosse uma coisa temporária. Mas a Neide ficou morando lá por cinco anos, de 2012 a 2017. A minha avó nunca cobrou um centavo de aluguel, nada. Porque gostava muito dela e realmente queria ajudá-la”, diz.

Em 2016, a avó teria vendido a casa e Neide ficou novamente sem ter lugar para morar. “Acabei ficando com dó. E me solidarizei com a Neide. Conversei com ela e disse ‘tem o quartinho’. Ofereci para ela colocar as coisas lá, pelo menos temporariamente. Ela aceitou prontamente”.

Mariah afirma no entanto, que imaginava que Neide só usava o quartinho para deixar as coisas dela e “que dormia, fazia as coisas pessoais” em uma habitação coletiva que havia próximo dali.

Ela diz que nessa época já morava com o marido na casa e que Neide não trabalhava como diarista para ela, apenas cuidava dos cachorros, serviço pela qual era remunerada.

“Eventualmente eu via que ela lavou uma louça, chegou até a passar uma camisa do meu marido para ajudá-lo. Sabe aquela coisa? Ela tá passando [na cozinha], viu que tinha uma louça, acabou lavando. Mas foi voluntário. Nunca foi pedido nada para ela. Eu achava que era assim: poxa, já que eu estava ajudando ela, deixando ela morar lá, ela fez para me agradecer. Eu nunca pedi que fizesse. A única coisa que eu pedi foi para ela passear, cuidar dos cachorros, [serviço] pelo qual eu pagava”.

Sobre a versão da mulher, que diz que não podia nem mesmo usar o banheiro, ela acredita que a história foi forjada.

“Na minha casa tinha um banheiro na lavanderia. Nunca vi ela usando. Mas ela tinha a chave. Poderia ter usado. Não tinha por que fazer as necessidades em um balde. Então me parece que essa é uma história um pouco forjada, um pouco manipulada”.

Demissão
Mariah conta que a primeira preocupação que teve quando foi presa pelo Ministério Público do Trabalho – e solta, em seguida, após pagar fiança de R$ 2.100 – foi tirar sua conta do Linkedin, rede social profissional, do ar.

“Meu primeiro pensamento foi tirar o Linkedin para não ligarem meu nome à empresa [Avon, onde trabalhava há três anos]. Tentei proteger a empresa, mas ela não se preocupou comigo. Publicaram no Instagram que fui demitida, e isso deu margem para mais ataques. Não deixaram eu contar o meu lado”, diz ela, indagando em seguida: “Assim, na boa, quem vai me empregar hoje?”.