Brasil – A liberação do FGTS emergencial para nascidos no mês de janeiro, programada para acontecer na última segunda-feira (dia 29), ainda não surtiu efeito nas contas de muitas famílias. Com o aplicativo Caixa Tem congestionado já há dois dias, os beneficiários relataram horas de fila virtual para consultarem seus saldos, falhas no pagamento de boletos e até atraso no crédito devido, que aparecia com o status “em processamento” na poupança social digital.
O Caixa Tem permite que os usuários naveguem em outros sites e utilizem seus dispositivos eletrônicos para outros fins, enquanto aguardam as liberações de acesso aos dados da conta. De Guarujá, em São Paulo, Taina Souza, de 25 anos, esteve na fila virtual do aplicativo nesta terça-feira (dia 30), das 10h às 15h.
— Quando eu entrei, apareceu uma mensagem informando que a fila era de mais de uma hora. Mas, quando esse tempo caiu para algo próximo a dez minutos, aconteceu algum erro, e a contagem voltou a quase uma hora de espera. Foi humilhante — lamentou Taina, operadora de telemarketing.
O jovem Jonathan Lima, de 24 anos, até conseguiu, em uma hora e meia, entrar no aplicativo pela primeira vez na segunda-feira. Mas, ao tentar consultar o seu saldo disponível, ficou frustrado.
— Desde ontem, todas as vezes em que consegui acessar, deu erro na visualização do saldo. Mesmo assim, tentei fazer pagamentos de boletos. Insisti 15 vezes, mas apareceu que minha conta não estava autorizada. Então, até agora, não consegui contar com esse dinheiro — disse.
Morador de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, o eletrotécnico não teve perda direta de renda nesta pandemia. Mas o pai, que presta serviços elétricos em condomínios, foi duramente impactado. Como os dois dividem as contas de casa, até uma mudança de endereço foi necessária durante o período de isolamento.
— A gente dividia o aluguel, e meu pai não estava conseguindo pagar a parte dele. O dono da casa reduziu a cobrança, e acordamos que ele descontaria do caução que demos inicialmente, mas também não foi suficiente. Então, tivemos que procurar uma casa mais barata e nos mudar no meio da quarentena. Mesmo assim, eu estava contando com esse dinheiro do FGTS para pagar contas que atrasei para ajudar meu pai e documentos do carro que venceram — contou Jonathan.
A carioca Giselle de Góes, de 33 anos, também não ficou desempregada. Mas, funcionária de uma loja de pneus, foi prejudicada pelas férias antecipadas não remuneradas que a empresa adotou para evitar demisões e perdeu ainda 30% de sua renda habitual, fruto de comissões, no restante dos meses de isolamento e queda nas vendas. Mãe de três filhos — de 16, 12 e 10 anos —, ela estava ansiosa para receber a parcela de seu FGTS e foi ainda nesta segunda-feira ao mercado, acreditando que conseguiria pagar a conta com o cartão de crédito virtual.
— Eu vi que o dinheiro tinha saído da conta do Fundo de Garantia. Fui ao mercado, mas fiquei 54 minutos na fila de espera virtual do Caixa Tem e, quando consegui acessar, apareceu que o dinheiro ainda estava em processamento. Tive alguma sorte, pois testei o pagamento com um produto. Se tivesse posto todo o carrinho na esteira, teria que passar pela situação de devolver tudo — avaliou ela, para quem os problemas enfrentados foram angustiantes: — O FGTS não é um auxílio, é um depósito sobre o nosso salário a cada mês trabalhado. É meu direito, e essa espera é angustiante. Entendo que usam o aplicativo para evitar aglomerações, mas então a ferramenta deveria ser melhor.
Procurada, a Caixa Econômica Federal informou que registrou intermitência no aplicativo Caixa Tem “em virtude da implementação de melhorias para atender ao crescimento do volume de acessos simultâneos” e garantiu, no início da noite de terça-feira, que os acessos já estavam normalizados.