Brasília – O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que os bolsonaristas que atacaram o prédio da corte são “desajustados”, mas “poucos e irrelevantes”. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Barroso também disse que o Tribunal Superior Eleitoral, que hoje ele preside, fará “o que tiver que ser feito” nos processos que pedem a cassação da chapa do presidente Jair Bolsonaro.

“É importante circunscrever esse tipo de manifestação ao que eu tenho chamado de um gueto pré-iluminista, pessoas que têm muita dificuldade de aceitar o outro, de aceitar a diversidade, de aceitar a pluralidade, mas é um grupo reduzido”,  afirmou Barroso.

“Alvejar simbolicamente com petardos, ainda que de artifício, o Supremo é uma imagem muito feia e muito triste de uma incapacidade de viver a vida em democrática. Vi com tristeza, com preocupação simbólica, mas com pequena preocupação real. Acho que são muito pouco e são irrelevantes.”

“Quando eu digo pré-iluminista, o iluminismo significa razão, ciência, humanismo, processo social, capacidade de aceitar o outro, a compreensão de que a verdade não tem todo, de que a vida democrática é feita de argumentos, e não do uso de violência e de ameaça. Por tanto, acho que são pessoas desajustadas e em quantidade irrisória”, completou.

O ministro disse não acreditar na possibilidade de ocorrer um golpe de estado no Brasil ou de risco real para a democracia.

“Esses guetos pré-iluministas, violentos, truculentos, eles são muito pouco representativos. Era preciso que a democracia brasileira fosse muito frágil para se abalar com esses tresloucados”, reiterou Barros.

“Em nome de que, para quem, para que, se daria um golpe. Eu duvido que as Forças Armadas que levaram três décadas para recuperarem o prestígio que desfrutam hoje e a admiração que tem quisessem se atirar em uma novamente no varejo da política”, completou o ministro.

Barros evitou falar sobre processos em andamento. No entanto, questionado sobre as pressões contra o Judiciário, o ministro destacou que não pode considerar “natural” o “excesso de notas”, citando episódios recentes de mensagens ameaçadoras do Ministério da Defesa, do Clube Militar e de militares da reserva.

“Onde eu estiver, posso até errar, onde eu estiver nesta vida se faz a coisa certa. De modo que, no Tribunal Superior Eleitoral, não há nenhum risco de o presidente ser perseguido, nem tão pouco há nenhum risco de ele ser protegido. Nós faremos o que é certo, dentro do direito. Nós somos atores institucionais e não atores políticos. O que tiver que ser feito, vai ser feito”, respondeu Barroso, ao ser questionado se o TSE julgaria com tranquilidade os processos que podem cassar o presidente Jair Bolsonaro.

Segundo o ministro, não haviam notas ameaçadoras em governos anteriores. Barroso apontou ainda que não se deve confundir o papel das Forças Armadas.

“Eu não acho que se possa dizer que as Forças Armadas estão no governo porque isto não existe, Forças Armadas não pertence ao governo. Eu acho que o fato de haver militares, um ou outro, no primeiro escalão, não seria, em si, um problema, mas o fato de haver uma multiplicidade, um número muito grande, de militares eu acho que abre uma preocupação porque um certo sentido de lealdade pode levá-los a se identificar com o governo e as Forças Armadas não podem se identificar com governo algum. Elas são instituições de estado, instituições da sociedade, e sob a Constituição.”