O presidente americano, Donald Trump, prometeu nessa segunda-feira (1) restaurar a ordem nos Estados Unidos após a maior explosão de protestos em décadas pela morte de um homem negro nas mãos de um policial branco, ameaçando os estados com a mobilização de militares se a violência não ceder.

“Vocês precisam dominar a situação. Se não dominarem, estarão perdendo tempo. Eles vão atropelá-los. Vocês vão parecer um bando de idiotas”, disse Trump aos governadores, segundo áudio divulgado pelo Washington Post. “Vocês devem prender e julgar as pessoas e elas devem ficar presas por um longo período.”

Uma semana depois da morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos que foi asfixiado por um policial branco que o imobilizou em Minneapolis, os protestos se espalharam de costa a costa do país e as manifestações, a maioria pacíficas, degeneraram em distúrbios na noite de domingo.

Em países rivais dos EUA, a onda de violência virou uma chance de ironizar Trump, principalmente na China, que vinha se queixando da interferência americana na repressão aos protestos em Hong Kong. Hua Chunying, porta-voz da chancelaria chinesa, respondeu pelo Twitter a uma mensagem do Departamento de Estado americano com a frase “Não consigo respirar”, usada por George Floyd, negro asfixiado por um policial branco de Minneapolis, episódio que desatou a onda de protestos.

“Há diferentes razões para os tumultos, mas as semelhanças são avassaladoras: eles desafiam a lei, subvertem a ordem e são destrutivos”, afirmou Hu Xijin, editor do Global Times, jornal ligado ao governo da China. Em vídeo, Xijin elogia o fato de Pequim ter mantido distância dos protestos nos EUA, diferentemente do que fizeram os americanos em Hong Kong.

Na China, a imprensa oficial tem tratado a crise como um sinal da decadência americana – que ocorre ao mesmo tempo em que o país acumula mais de 100 mil mortos pela pandemia de covid-19 e 40 milhões de desempregados. Na sexta-feira, quando chegou a notícia de que Trump havia sido levado para um bunker na Casa Branca, a hashtag #BunkerBoy chegou ao segundo lugar no Twitter.

Na capital, Washington, foram registrados distúrbios nas imediações da Casa Branca, com destroços, incêndios provocados pelos manifestantes, bandeiras americanas em chamas e muros grafitados com palavras de ordem contra a polícia. A Casa Branca ficou às escuras e o presidente teve que se abrigar em um bunker.

“O que aconteceu na cidade ontem à noite é uma desonra absoluta”, disse Trump em discurso proferido na Casa Branca, ao mesmo tempo em que a Polícia dispersava um protesto a poucos metros da sede do Executivo americano.

Trump anunciou que mobilizará militares na capital para conter “os distúrbios, os saques, o vandalismo, os ataques e a destruição gratuita da propriedade”.

“Estou enviando milhares e milhares de soldados fortemente armados”, afirmou Trump, ameaçando as outras cidades com a mobilização do exército para “arrumar rapidamente o problema” se não tomarem decisões para frear os protestos.

Pouco depois de a polícia dispersar os manifestantes reunidos do lado de fora da igreja de Saint John, um edifício histórico perto da Casa Branca, danificado no domingo à noite à margem do protesto, Trump dirigiu-se ao local levando uma bíblia em uma das mãos.

Nesta segunda, a prefeita de Washington antecipou em quatro horas o início do toque de recolher, que começou às 19h locais (21h de Brasília). Em Nova York, as restrições à circulação vão começar às 23h locais (01h de terça-feira em Brasília).

Durante o dia, Trump responsabilizou a “esquerda radical” pelas mobilizações e criticou os governadores, chamando-os de “fracos” e exigiu que “se imponham”.

Estes protestos ocorrem em um momento em que mais de 100.000 pessoas morreram nos Estados Unidos pelo novo coronavírus e em que as medidas tomadas para mitigar a pandemia acertaram um forte golpe na economia americana em um ano eleitoral.

A epidemia teve um impacto devastador na comunidade negra e alguns estudos mostram que esta população corre até três vezes mais riscos de morrer da doença do que os brancos.

Temos filhos negros, irmãos negros, amigos negros e não queremos que morram”, disse à AFP na localidade de Saint-Paul Muna Abdi uma manifestante negra de 31 anos. “Estamos cansados de que isto se repita, esta geração não vai permiti-lo”, afirmou.