Manaus|AM – Um suposto esquema de pagamento de propina relacionado ao sistema funerário oferecido pela prefeitura de Manaus, o SOS Funeral, foi denunciado esta semana. Os serviços do SOS Funeral é destinado a população em situação de vulnerabilidade social e econômica. Porém, a suspeita da criação de uma rede de propina que estaria ocorrendo desde 2017. Na época, o titular da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (Semmasdh), atual Semasc, era o vereador Elias Emanuel (PSDB).

No áudio, gravado em 2018, um dos empresários envolvidos no esquema de corrupção cita o atual vereador Elias Emanuel (PSDB) como sendo um ótimo articulista na negociação, e, mesmo com pagamento de propina, ele conseguia fechar negócio. “Na época que trabalhei com o Elias, eu não tinha problema. Ele sabia das coisas”, relatou por áudio um dos denunciantes, afirmando que o ex-secretário tinha conhecimento dos esquemas.

Na foto o empresário Adauto Victor da Costa

Com a saída de Elias Emanuel, quem assumiu o cargo na mesma secretaria foi o pastor e vereador Dante Souza (PSDB). Dante passou a pedir propinas tão elevadas, que os donos das funerárias resolveram denunciar. O empresário Adauto Victor da Costa reclama que está com várias urnas paradas e, para entregar, precisa pagar uma propina em um valor altíssimo ao vereador. No outro áudio, Adauto afirma que já pagou mais de 100 mil reais à secretaria e acusa Dante de não cumprir com a parte dele. Lamenta que está no prejuízo e quebrado.

Foto: Galpão lotado de urnas destinadas ao programa SOS Funeral

“Eu atendo o SOS há muitos anos e nunca aconteceu o que tá [sic] acontecendo agora. Eles frearam o atendimento do SOS, porque pra gente entregar [os caixões], tivemos primeiro que negociar um valor […] Só esse ano eu já repassei R$100 mil. A minha empresa é pequena. Esse valor para uma empresa do tamanho da minha é muito dinheiro. Eu ainda não paguei férias, não paguei décimo dos meus funcionários”.

Depois de muita polêmica, Dante deixou o cargo e foi substituído por Conceição Sampaio, do mesmo partido.

Ouça os áudios:

Após o sistema de saúde do estado colapsar e mais de 100 enterros serem realizados diariamente, o Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Amazonas (Sefeam) alertou que o estoque de caixões disponíveis é insuficiente para atender a grande procura.

No entanto, as denúncias revelam que a atual secretária da Semasc estaria supostamente “se livrando dos caixões em estoque” fazendo enterros deliberadamente, com urnas vazias, e dessa forma, fazendo novos empenhos para a compra de caixões, superfaturando com o preço nessa demanda.

Empenho de pagamento destinado a aquisição de urnas funerais. Foto: Reprodução

Ao que tudo indica, um caixão cujo valor seria de R$ 328,83, passou a custar R$ 1.980 reais a unidade após a pandemia. Um valor superfaturado destinado exclusivamente a prefeitura de Manaus. Além disso, funerárias têm cobrado um pacote em torno de R$  3 a 5 mil, mas incluindo, além da urna, translado e sepultamento.

Foto: Setor de litação prefeitura de Manaus

As denúncias são muitas. Um coveiro do Cemitério Parque Tarumã, que não quis se identificar, se mostrou indignado com a situação que tem ocorrido no cemitério. Ele afirmou que por várias vezes enterrou urnas vazias, sem pessoas mortas dentro. Disse que não estava compreendendo o motivo, até que viu muitas filmagens, de vários veículos de comunicação acontecerem no local das covas.

Não basta lidar com a dor da perda, as famílias não podem prestar uma homenagem digna aos seus entes queridos, realizando enterros simultâneos em condições desumanas, sem saber se, de fato, há corpos dentro dos caixões.

Após as denuncia que estariam enterrando caixões vazios tudo se normalizou e quatro pessoas passaram a carregar os caixões. Foto: Reprodução

Prefeitura de Manaus faz valas comuns em cemitério 

Assim como nos EUA, Manaus também começou a realizar enterros em valas comuns, emparelhando um caixão ao lado do outro, em um sepultamento simultâneo. Em Nova Iorque, o método de sepultamento em valas foi adotado, inicialmente, para pessoas cujas famílias são desconhecidas ou não podem pagar pelo enterro, como é o caso de indigentes ou moradores de rua. Com o aumento no número de mortos durante a pandemia, as autoridades norte-americanas passaram a utilizar as covas para enterrar todo o tipo de vítima. O estado já registrou mais de 12 mil mortes até o momento.

Em Manaus, o enterro em covas rasas repercutiu e acabou despertando nos amazonenses a curiosidade em saber se o número de sepultamentos realmente bate com o registro de mortos por Covid-19. Por dia, são enterrados mais caixões do que mortos de fato.

Cemitérios estão ficando com superlotação e não apresentam mais espaço disponível para novos sepultamentos.

Um vídeo, compartilhado através de aplicativos de mensagens, mostra o caos que se instalou nos cemitérios em Manaus. Famílias receberam propostas de enterrar caixões empilhados uns sobre os outros, por falta de espaço. O caso ocorreu no Cemitério Nossa Senhora de Aparecida, no Tarumã.